Algumas garotas, como a da foto, conseguem mexer com a imaginação e o bolso de muitos homens. Janessa Brazil não é a nova golpista do Tinder, mas imagens da "camgirl" mineira radicada nos EUA foram utilizadas em mais de 100 mil perfis falsos no Facebook, no Instagram e no Twitter para fisgar corações solitários. Um agricultor da Sardinha, com cerca de 30 anos, enviou aos trapaceiros US$250 mil, enquanto um americano chegou a entrar na Justiça contra Janessa na esperança de recuperar US$ 2 milhões. O caso rendeu um dos podcasts mais ouvidos e elogiados atualmente na Grã-Bretanha, país que mandou cerca de US$ 150 milhões a golpistas estrangeiros só no ano passado, segundo as autoridades.
Love, Janessa é uma realização do Serviço Mundial da BBC em parceria com a canadense CBC e e tem por base uma forte investigação jornalística, com entrevistas na Europa, na América do Norte e na África. A reportagem, apresentada em sete episódios de cerca de 40 minutos, é conduzida pela jornalista britânica Hannah Ajala, baseada atualmente em Gana, onde muitos golpistas, conhecidos como “sakawa boys”, agem. Ajala conta que boa parte das gangues especializadas em enganar inocentes opera a partir da África Central, principalmente de Gana e da Nigéria.
O golpe começa com um pedido de amizade nas redes sociais, seguido de troca de mensagens. Depois de dois a três meses de flerte, já com a vítima enamorada e pensando em relacionamento sério, começam os pedidos de ajuda financeira. A reportagem mostra como os criminosos atuam de forma conjunta e organizada, administrando centenas de perfis falsos. Eles contam, inclusive, com um guia de ação e utilizam planilhas para conseguir manter as mentiras.
Ajala consegue localizar tanto Janessa, hoje em reclusão nos EUA, quanto rapazes africanos envolvidos na fraude, muitos dos quais se destacam pela ostentação de roupas e carros de luxo. Um deles fala em desforra contra colonizadores.
Em formato narrativo, o podcast tem produção de primeira linha e envolve o ouvinte não só pelo drama de Janessa e das vítimas, mas pelo passo a passo da investigação. Entre os muitos pontos fortes, está a forma respeitosa e empática com que Ajala apresenta as pessoas enganadas. Tratamento que também oferece ao “sakawa boy” que, relutante a princípio, acaba revelando como arma as fraudes.
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