Depois do sucesso de Caso Evandro, Ivan Mizanzuk está de volta nos tocadores de áudio com Altamira, mais uma série sobre crimes brutais. Desta vez o podcaster aborda o caso dos meninos emasculados entre 1989 e 1992 na cidade do interior do Pará que dá nome à quinta temporada do Projeto Humanos. Altamira estreou na quinta-feira (7/4/22) pelo selo Globloplay, em mais uma aposta no crescente interesse pelo gênero true crime em áudio.
Ivan Mizanzuk - divulgação
Nos EUA, as histórias de crimes reais atingem índices estratosféricos de audiência. Crime Junkie, com 5.9 milhões de downloads por episódio, é o podcast mais ouvido na Amazon e o terceiro no Spotify. A lista dos dez mais inclui ainda My Favorite Murder (2,9 milhões) e Morbid, a True Crime Podcast (1,1 milhão). No Brasil, não temos números de downloads, mas o gênero também lidera nas listas divulgadas pelos agregadores.
Tão repentino e aficionado interesse em crimes reais intriga. Já não há sangue o suficiente nos programas de TV sobre criminalidade ou em séries audiovisuais? Cansei de perguntar a fãs do gênero o motivo da preferência por histórias violentas sem nunca receber uma resposta clara nem por parte de jovens produtores dessas histórias. Li inúmeros artigos sobre o tema, nos quais psicólogos citam a identificação do ser humano com a violência por causa de instintos destrutivos, que são reprimidos e sublimados para a adequação social. Pouco convencida, despi-me de todo o preconceito contra o “mundo cão” e encarei vários podcasts sobre crimes reais. Não foi preciso ouvir muitos. Que histórias!
O sucesso, me parece, está, acima de tudo, na força da narrativa, cheia de conflitos, detalhes, assombros, predadores e vítimas, maliciosos e inocentes. O narrador ativa nossa imaginação como nos tempos em que se contavam histórias fantásticas ou aterrorizadoras em volta da fogueira em noites escuras. A oralidade perdida por décadas está de volta. Ouvir uma história é bem diferente de assisti-la. É imaginação pura. Lembro de quando pequena passar férias na casa dos avós de uma amiga num sítio sem energia elétrica. À noite, na varanda escura, um dos tios contava histórias de arrepiar. Ouvir Café com Crime ou Modus Operandi é quase como voltar àquela varanda.
Apresentado por Stefanie Zorub, jornalista especializada em roteiro cinematográfico pela Universidade da California, Café com Crime é o primeiro podcast sobre casos brasileiros. Foi lançado em 2018. O episódio Esquartejado no Motel: o caso Joelson Ramos é para lá de curioso e impactante. Pobre Joelson, mais uma vítima da banalidade do crime no país, onde se mata por tão pouco. Modus Operandi destaca-se, por sua vez, por grandes casos ocorridos no exterior. O Monstro de Florença, por exemplo, nos mantém ligados numa narrativa de quase duas horas! O podcast foi criado em 2020 pela roteirista de cinema Carol Moreira e pela publicitária Mabê Bonafé.
Café com Crime e Modus Operandi aparecem com frequência na lista dos mais ouvidos. Há dezenas de outros programas do gênero. Mas Sté, Carol e Mabê contam com o fator carisma. Narração despretensiosa, brincalhona. Algumas produções mais sofisticadas financiadas por grandes agregadores soam chatas. A locução impessoal faz com que a história pareça dublagem de filme.
Sobre Altamira, é importante destacar que a série vai muito além de narrar fatos conhecidos. Há uma investigação jornalística que traz novos dados e análises sobre os crimes ocorridos.
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